Quando falamos de inibição na infância podemos gerar dúvidas em muitas pessoas, mas se a gente pensar naquilo que causa vergonha, constrangimento, pudor ou timidez, temos indícios do que é a inibição. Mas como tudo isso vai parar na criança? Ela já nasce sabendo? Não. Ela é, digamos assim, “transmitida” dos adultos para os pequenos.
Muitas vezes tentamos moldar as crianças, ensinando o que acreditamos ser certo, a partir do nosso repertório, seja consciente ou inconscientemente. Obviamente entendemos que em certos momentos é necessário repreender para o desenvolvimento, mas excesso atrapalha porque pode desenvolver uma insegurança muito forte no futuro adulto.
Falando assim pode parecer difícil, mas apresentamos abaixo alguns exemplos que podem tirar sua dúvida.
Imagine uma criança fazendo birra no supermercado e os pais começam a inibir essa expressão infantil dizendo: “olha a vergonha que você está me fazendo passar”, “todos estão olhando”, “se você fizer assim não vou te amar” e por aí vai… Percebem que é a vergonha dos pais transmitida para a criança? O que ela estava tentando dizer com essa birra? Que sentimento ela não conseguiu expressar que precisou se jogar no chão chorando?
Um outro contexto menos óbvio. A criança escolheu uma roupa considerada cafona pelos pais (cores sem combinar). E escuta: “nossa, você vai assim?”, “que horrível que está”, “mas você não sabe fazer nada sozinho”… Percebem?
Há ainda aqueles momentos que os pequenos fazem comentários inapropriados ou apenas são crianças, com comportamentos infantis. Também é muito comum ouvir “não faça isso porque vou falar para______”, “os outros vão achar feio”, “se fizer isso eu vou chorar”.
A mensagem que passamos nessa horas é de amor condicional, ou seja, a criança entende que apenas se for “perfeita” terá o amor dos seus pais. Só que é a partir daí que desenvolvemos nossa forma de nos relacionar com o mundo e seguimos repetindo essa ideia ao longo da vida e relações. A criança tem o seu caráter moldado a partir disso; condicionado, com forte tendência a virar um adulto com medo de se expressar, de ser espontâneo, porque o registro do inconsciente é de poder fazer mal a alguém, ser rejeitado ou punido.
Claro que não é para deixar a criança dar tapa na cara de ninguém… Não é para deixar ela fazer tudo o que quer, mas sim respeitar sua espontaneidade, quando esta aparece sem ferir ninguém, e sem razão real para ser inibida.
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