O amor é um sentimento muito sofisticado, sendo um adulto capaz de amar se sua formação psíquica foi completa. A criança não tem a noção de amor, nem daquele que ela sente por alguém, e menos ainda de outra pessoa por ela. A primeira coisa que ela compreende é o sentimento de segurança passado pelo olhar e que vem sem juízo de valor, outra característica refinada para o psiquismo infantil.
Podemos usar o exemplo de quando a criança faz algo errado e os cuidadores dão uma bronca. Nesse instante, ela se sente olhada e com atenção voltada para si. Claro que ainda não consegue diferenciar o que essa mirada está querendo dizer e acaba entendendo tal movimento como um ato de amor. Essas situações são registradas e marcadas ao longo do desenvolvimento psíquico e, se a dedicação dos pais se volta apenas em momentos de repreensão, a tendência é que se torne uma criança que faz coisas erradas para chamar a atenção deles.
Outro caso clássico: muitas vezes a criança não é estabanada, mas ao passar por uma experiência desastrosa, ouve a todo tempo sobre sua falha. Geralmente isso é recorrente, sempre solicitando que ela esteja mais alerta, pontuando incessantemente sobre o assunto. Em um momento que precise de cuidado, vai recorrer a esse artifício, dando ênfase àquilo que mais se olha. Já se os pais dão muito valor à limpeza e à organização a criança pode demandar atenção justamente fazendo o contrário.
O processo acontece da mesma forma se ela estiver em um ambiente em que é muito elogiada. Isso gera na criança o desejo de fazer coisas positivas para agradar. É um movimento natural dos pequenos, pois eles querem atenção – até por uma questão de sobrevivência – e não tem capacidade de julgar se sua atitude é boa ou ruim. Eles tendem a encarar tudo como um ato de amor, sem juízo moral, como falamos acima.
O amor da criança para os pais/cuidadores é da ordem devocional, pois até em tamanho ela é menor que os adultos. É um olhar de baixo pra cima, e a busca é sempre pela “conquista” do amor do responsável, relacionando diretamente sua sobrevivência a isso.
Quanto mais amada, acolhida e olhada, independentemente do que faz, mais forte e saudável será sua psique.
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